Neste domingo, 7 de outubro, o
Clube do Samba reunirá, em Ilhéus, músicos e sambistas numa tarde regada pelo melhor
ritmo da música popular brasileira. Confira a seguir mais informações sobre o
samba em Ilhéus e no Brasil.
Por Anna Karenina 4085/BA
maorilevejunto@gmail.com
Após a votação das eleições, em 7
de outubro, às 13 horas, se inicia a melhor programação do domingo, no Clube do
Samba, em Ilhéus, situado na Avenida Aliança, nº 51, bairro da Conquista.
Músicos, artistas, poetas, agentes culturais e apreciadores da mpb se reunirão
para apreciar o som de Herval Lemos, Irmão, Sérgio Nogueira, Cláudio Vieira, Luana
e Eloah Monteiro, músicos conceituados e amantes do samba. Ingressos R$10,00.
O Clube do Samba é uma casa de
confraria formada no ano de 2007, em homenagem ao ilustre cantor e intérprete ilheense,
Joãozinho Alfaiate (in memoriam) por uma geração ativa e conceituada de sambistas,
intérpretes, compositores e instrumentistas, que se reúnem para fazer música elevada
de alta qualidade sonora. Presidido pelo percussionista Jorge Ivan Rodriguez,
filho do homenageado e casado com Agda Silva, o Clube é composto pelos músicos Délio
Santiago, Herval Lemos, Sérgio Nogueira, Gil Lucas, Priscila Benevides, Irmão,
Djalma, Luizinho, Cláudio Vieira, Luana e Lito Vieira.
Um pouco de História
Natural de Ilhéus e nascido em 8
de março de 1929, Joãozinho era músico de rua e costumava tocar bolero e samba nos
bares da cidade, geralmente no Bar de Treita da Avenida Itabuna, no Bar
Capixabinha do bairro da Conquista e na Maré Mansa, da Cachoeira do Roça. Casou-se
com Lélia Rodriguez Araújo, com quem teve sete filhos, e, junto com seus contemporâneos, formou um grupo
de seresta marcando a história do samba na cidade.
A “Velha Guarda” pode ser
lembrada em Ilhéus por nomes de músicos como os de Seu Gordura (in memoriam),
considerado o mestre de todos os cantores, e Odraude, personalidade que vivenciou
a época em que o bolero, a seresta e o samba se misturavam nas cantorias e
salões da década de 1950 em diante. Assim acontecia o samba mesclado com outros
ritmos nos bailes dançantes no antigo “Berro D’água”, onde é hoje Hotel Opaba,
no Pontal, em Ilhéus. Ligado nas manifestações culturais da cidade, Odraude é
uma personalidade formidável e distinta que guarda, em suas lembranças existentes,
relatos que marcaram época, assim como hoje guardam os músicos Mão Branca e
Antônio Muniz, contemporâneos de Joãozinho Alfaiate, ao lado de Clovis Farias e
Assis.
Pano pra manga
Própria da cultura humana, a
música é uma arte capaz de tocar a alma, com seus gêneros, arranjos, melodias e
ritmos. Sem dúvidas, o samba é um estilo musical que se diferencia dos demais pela
sua cadência e embalo peculiar, tornando-se eminente o poder de atrair e envolver
as pessoas no seu compasso e emanação de musicalidade elevada. O gênero surgiu
no Brasil com origem de raiz africana, e é considerado como uma das principais
manifestações da cultura popular.
Mas, no Brasil, onde o samba teria
nascido primeiro? Na Bahia ou no Rio de Janeiro? Fontes tradicionais de
informação na internet, com referências da Biblioteca Nacional, como A Wikipédia
Enciclopédia, apontam que como gênero, o samba é entendido como uma expressão
musical urbana do Rio de Janeiro. Mas, anteriormente, a pesquisa demonstra que
dentre as características originais do samba, “a dança é acompanhada por
pequenas frases melódicas e refrões de criação anônima, alicerces do samba-de-roda
nascido no Recôncavo Baiano”, que só chegou no Rio de Janeiro na segunda metade
do século XIX. Para quem conhece mais sobre essa cultura popular, sabe que o
samba-de-roda é uma manifestação que está inserida junto com a capoeira. Estudos
e os próprios relatos das ladainhas de antigos mestres da Bahia apontam que a
capoeira nasceu em Santo Amaro, cidade situada justamente no Recôncavo Baiano.
A letra da música “Onde o Rio é
mais baiano”, de Caetano Veloso, por exemplo, diz que “A Bahia/ Estação
primeira do Brasil/ Ao ver a mangueira inteira nela se viu/ Exibiu-se sua face
verdadeira/ Que alegria/ Não ter sido em vão o que ela expediu/ As Ciatas para
trazerem o samba pro Rio/ (Pois o mito surgiu desta maneira)”. A construção da
letra, sua linguagem e ornamentação de palavras, evidenciam a forma de
surgimento do samba no Brasil e um mito em torno desse evento. A música “Pelo
Telefone”, é considerada o primeiro samba gravado em disco no Brasil, em 1917, no
Rio de Janeiro, criada na casa de “Tia Ciata”, personalidade baiana soteropolitana,
onde se frequentavam vários músicos quem teriam criado o primeiro samba gravado.
Mas “Pelo Telefone”, é uma canção com autoria reivindicada por Ernesto dos
Santos, conhecido como Donga, com co-autoria do cronista carnavalesco, Mauro de
Almeida.
Tia Ciata, cozinheira e mãe de
santo, de nome Hilária Batista de Almeida, foi uma ativista em animar e ajudar a
difundir a cultura negra nos raízes das favelas cariocas, e é em menção à ela
que o trecho da música de Caetano Veloso “As Ciatas para trazerem o samba pro
Rio/ (Pois o mito surgiu desta maneira)”, insinua que na verdade o samba nasceu
na Bahia, que tentaram levar o samba pro Rio, mas que é um mito que ele seja de
origem carioca. A letra “Samba da Benção” de Toquinho e Vinicius de Moraes, narra
que “Porque o Samba nasceu lá na Bahia/ E se hoje ele é branco é na poesia/ Ele
é negro demais no coração”.
A saideira, por favor!
Jorge Ivan, filho de Joãozinho
Alfaiate, que tem como referências musicais João Gilberto, Novos Baianos, Vicente
Celestino, Gilberto Alves, Oswaldo Fael, Morena Belado, João Nogueira, Os
Mutantes, o MPB de Gabriel Santiago, e estilos como o Fox, Bolero, Jazz, Blues
do Texas, entre outros, ratifica que o samba veio mesmo da mãe África e defende
com veemência que, no Brasil, nasceu sim na Bahia. O músico ilheense Herval
Lemos, concorda, e acresce dizendo que só depois Tia Aciata levou o samba para
ser difundido no Rio de Janeiro. Para o músico soteropolitano Cláudio Vieira, “o
samba é como um transe espiritual, a expressão de todos os orixás nessa
manifestação cultural”.
Lemos reflete dizendo que “o Sol
é para todos. Mas a arte na sua essência, sem influência de nada, em função
somente do amor, é para alguns”. Ele explica que “existem vários tipos de
samba, como o samba-canção, samba-de-breque, samba-exaltação, samba-enredo,
samba-rock, samba-de-roda, partido alto, chula, bossa nova, samba-de-gafieira,
samba-reggae, samba-do-criolo-doido, entre outros...” Para ele, a base instrumental
para fazer samba parte principalmente do pandeiro, cavaquinho e tamborim, em
seguida o violão, chocalho, timbau e agogô.
Podemos citar canções como “As
Meninas de Batom”, composição de Herval Lemos, “Dias de Samba” e “Salve
Salvador”, de Sérgio Nogueira, “Bang bang” de Gil Lucas, “Mandinga”, de Cláudio
Vieira, como obras que resultaram dos encontros sambistas etílicos no Clube do
Samba, e que aos seus modos peculiares narram, traduzem e guardam a memória das
pessoas, emoções e sentimentos despertados durante inspirações poéticas e
musicais.
Felizmente existem recintos onde
quer que estejam situados, é possível encontrar pessoas que exercem a mesma
atividade, modo de vida ou apreciam uma determinada cultura, e que possuem
particularidades em comum, por afinidades de gostos, e perceber um sentimento
de uma unidade confraterna – e isso acontece há milênios nas diversas formas de
organizações e sociedades dos grupos humanos. E o Clube do Samba é assim, um acontecimento
onde você sente sua raiz na música do samba, nesse processo de identidade
cultural.