Maori: Rock no Lual do Surf, no Vagão de Olivença

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Rock no Lual do Surf, no Vagão de Olivença

A estréia da estação mais florida do ano vem com a intensificação do Sol nas ultimas semanas. A temporada de ondas no mar de Olivença, com a 3ª Etapa do Campeonato Bivolt de Surf, trazem para o final de semana, em Ilhéus, um clima muito bom que vai misturar na noite estrelada de sábado (22), o rock dos Mendigos Blues e o som de Igor Carvalho e Banda, a partir das 22h, no Bar O Vagão, em Olivença. Primavera, tropicália e boas ondas e músicas no Lual do Surf. Meus francos, a entrada é franca.

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Quem?

Natural da terra do poeta Cyro de Matos, Anna Karenina de Oliveira é artesã no ofício das palavras. Sua raiz poética nasce na infância e em seu processo de formação acadêmica, amplia os horizontes de percepção da realidade, aliando poesia e comunicação. Numa simbiose particular de leitura, explora a realidade como uma rede plural de universos.
Formada em Comunicação Social-Jornalismo pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Vitória da Conquista) em 2010, já explorou atividades que somam experiências em webjornalismo, assessoria de comunicação, jornal e revistas. Hoje, reúne uma quantidade razoável de trabalhos desenvolvidos, e uma coleção notável de poesias, algumas já publicadas em periódicos. A forma de enxergar a realidade, nos processos de apreensão a que o comunicólogo tem por direito, permeia entre a singularidade literária, poética, e a razão da objetividade. Esse caráter se mostra de modo versátil, que permite ao produtor diagnosticar a necessidade da comunicação e adequar o conteúdo na forma mais engajada. O trabalho de conclusão de curso enrraigou o mix de jornalismo com a linguagem literária da realidade. Debruçou suas pesquisas na historiografia que esmiuça a formação originária de Rio de Contas, na Chapada Diamantina - BA, através de estudos sociológicos e entrevistas face a face. O objeto de pesquisa se delimita em comunidades quilombolas e de descendentes portugueses que, até então, não se miscigenaram, residindo a apenas 8 km de distância, desde os setecentos. Na busca de conhecer a atual composição desse contexto, Anna de Oliveira adentra ambas as comunidades na missão jornalística de explorar as riquezas culturais, históricas, simbólicas, e, ao mesmo tempo, dentro de uma ótica social, pelo qual se desenvolve o jornalismo. Por isso, confeccionou um produto configurado numa grande reportagem, no estilo jornalismo literário, disposta em formato blog, navegado por hiperlinks, intitulado: No Alto, um duplo Sertão Baiano. Para visualizar, acesse: http://altosertaobaiano.blogspot.com/

Perfil Narrativo

O Novo Jornalismo, Jornalismo Narrativo, ou o que chamo de Jornalismo Literário, foi um estilo de narrativa jornalística emergido na segunda metade do século XX. A "nova" forma é cristalizada numa narrativa jornalística que usa técnicas literárias para contar fatos da realidade. Há quem diga que surgiu na imprensa americana nos anos 60, mas publicações latino-americanas anteriores sucumbem o boato. Foram o argentino Rodolfo Walsh e o colombiano Gabriel García Márquez que inauguram a arte, aqui na América Latina. Era na década de 50, que Walsh lançou o livro-testemunho, "Operación Massacre", que revela uma trama oculta de uma série de massacres de militantes políticos, civis e militares na zona norte da Grande Buenos Aires. E "Relato de un náufrago", uma reportagem literária, de García Márquez foi publicada em 55, com base na entrevista do único sobrevivente do naufrágio do navio A.R.C. Caldas. Para o autor, a crônica jornalística representa "um conto que é verdade". O escritor Martín Caparrós, diz que trata-se de um jornalismo abrigado pela literatura, o que torna a leitura mais instigante, "porque cria uma cultura e não fala de uma que já existe".

Nos Estados Unidos, o Novo Jornalismo consagrou nomes de repórteres americanos que migraram para a literatura. São eles, Tom Wolfe, Truman Capote, Norman Mailer e Gay Talese. Este último, inclusive, traz mais uma definição: “O novo jornalismo, embora possa ser lido como ficção, não é ficção. É, ou deveria ser tão verídico como a mais exata das reportagens, buscando embora uma verdade mais ampla que a possível através da mera compilação de fatos comprováveis”.

Nuances

Apaga as luzes artificiais, abre a janela, acende a vela, e deixa o silêncio da rua entrar. Anastácia olha despida a Lua, entreaberta, coberta por nuvens e ora descoberta, refletindo nas telhas úmidas e molhadas das casas nuas. Um incenso de alecrim - purificação, bem estar e proteção - aromatizam o ambiente de seu quarto, fingindo disfarçar o trabalho que se faz no incenso inodoro do ar. Já são nove e vinte e seis. A vela está acesa no banheiro escuro, o banho noturno está pronto para adormecer as dores de garganta das paredes cálidas de seu quarto, suas testemunhas.
A tevê continua embaçada e não diz nada. Mas o ar diz para pra ter calma e escrever contos. Anastácia precisa de noites longas e dias longos, mas nunca cansados. Ela quer exteriorizar essa intensa necessidade de se dissipar em palavras, respirar e viver. Então abre a porta do box e em sua cabine de banho, enquanto a água molha o seu corpo sedento, desfruta de um transe, se elevando para além dos telhados molhados da casa nua, voando pelo espaço, tão alto, tão alto, e a cada gota caindo sobre seu rosto molhado, é como um astro, uma estrela, um planeta, um ponto de luz, a luz dos anjos a irradiar a emanação do cosmo infinito. E o universo ficou pequeno sobre moléculas microscópicas, hidratando os lábios ressecados de Anastácia, ressecados de tanta... De tanta... de tanta comunicação.

O que é MAORI?

Nas sociedades arcaicas da Polinésia, de acordo com o "Ensaio Sobre a Dádiva", de Marcel Mauss, qualquer coisa pode ser uma dádiva. O nascimento de uma criança, uma esteira, um colar, um bracelete, propriedades, um almoço, um chá e todo e qualquer trabalho material ou imaterial concedido a alguém podem ser uma dádiva. "MAORI" representa um sistema de troca de dádivas, dar e a concepção de receber, a retribuição como reciprocidade. A ideia dominante do direito MAORI reside no “HAU”, o espírito da coisa dada. Em toda prestação, a dádiva leva o HAU da pessoa, ou seja, o poder espiritual de quem o oferece acompanha a dádiva recebida. Se você me dá uma dádiva, que carrega o seu HAU, e eu a dou a um terceiro; e este me retribui com outra dádiva (porque ele é movido pelo HAU de minha dádiva), sou obrigado a devolver-lhe a dádiva com o HAU que me foi retribuído, pois pertence a você. Na realidade, esta dádiva é o resultado do HAU da sua prestação inicialmente oferecida. Isso é ser MAORI. Dar alguma coisa a alguém é dar algo de si, e exerce uma influência mágica sobre quem a recebe.

Poesia Visceral

No dia da poesia,
Vou escrever pra dizer...
Que poesia não precisa de dia,
Não precisa de mim,
E nem de você.
Nós é que precisamos dela.
Ela é todo dia,
E dentro da gente,
Subconsciente visceral.

Não quero os versos curtos,
E nem os compridos,
Quero versos infinitos,
Alcançando o cosmo,
Estrelas cadentes...
E permanentes.
Não quero mais tercetos,
Nem quartetos,
As estrofes sofregadas,
Destes decágonos...

Quero sem métricas,
Só com a sina,
De todas as descobertas.
De poetas.
Poesia não quer dizer nada,
Porque dizendo nada,
Pode ser tudo, e dizer muito,
No universo onírico,
E transcendentalmente,
Pleno.

Poesia irrompe aqueles dentes escancarados,
Cheio de olhares e olhos facetados,
Dos olhos doentes, maquilados e vazios a se exibir.
E sendo tudo,
Poesia é criacionista,
D'arte espontânea,
O que brota de si,
E que sai por aí a respirar,
Sentimentos sem se escrever:
Inspiração.

Poesia

É o silêncio no meio do barulho,
Na confusão nata dos espíritos inquietos,
Do saudosismo, do melodrama...
E do visgo que leva a melancolia.
É o alto volume do som de todos os rocks,
A batida dos pandeiros de samba,
Da mulher rendeira e da reza,
Que leva no balanço bordado da saia,
E nas contas que seus dedos distribuem,
É também sorrisos de criança.

Poesia

É a noite escura, serena e fria,
É o astro, o espiral
Os desenhos das estrelas,
De crucifixo, satélites, pirâmides e castelos,
Misteriosos e belos,
Desvarios.
Amor e dor,
Também é Sol,
Tempestades de luz,
Demasias.

É o menino chorando,
Sentado na rua,
De fome, de solidão.
É a menina de tranças,
Ansiosa na janela,
Na redoma de tanta proteção.
É o café,
O algodão doce.
Uma pipa voando no céu.
Um barquinho de papel...

Poesia

É a escrita, uma expressão,
Um verbo calado,
Inocente e cheio de malícia,
E que tem ode à televisão.
É tudo o que transita
E encontra corações solícitos
Pra sentir a comunicação...
Das coisas simples,
Sentintes e solidárias,
Poesia é visceral!

Anastácia,
em 14 de março de 2012.