Somos pertencentes a uma terra muito rica, não só em minério, mas em cultura, em um povo que tem suas tradições, origens e raízes, e embora não reconhecidos, preservam sua integridade dentro de suas comunidades. Infelizmente estas são desassistidas pelo poder público, um Estado inerte de negligência e apatia, corrupto e ladrão. Em se tratando de política, infelizmente Ilhéus há muitos anos, assim como Itabuna, realmente não oferecem nada. Penso que algumas pessoas daqui, por muitos anos, se alimentaram e se alimentam de ego, poder, vaidade, arrogância, prepotência e egoísmo, e querem subjugar uma geração inteira prostrada aos pés de quem lhe oprime. O Porto Sul é um grande exemplo disso.
Mas temos boas pessoas por aqui também, que têm enfrentado, questionado, debatido e combatido os gaviões de garras grandes e afiadas, para defender o que todo cidadão deveria fazer: proteger sua Mata Atlântica, lutar pela dignidade das sociedades aqui estabelecidas, cidadania, melhores condições de vida para o povo etc. Enquanto isso, a maioria vira o rosto e esquece que essa grande classe eleitoreira, o que chamam de castas C, D, E, F, até o ultimo grau da miséria, precisa de saúde, educação, transporte, trabalho, alimentação eficientes etc.
O fato é que Ilhéus não oferece infra estrutura para atender ao inchaço populacional caso esse empreendimento seja implantado, pois com o que já oferece, não atende nem a própria necessidade. O fato é que os danos serão muito maiores que os lucros, onde quem verdadeiramente vai lucrar sobrevoa em jatinhos, helicópteros, monitorando e demarcando suas áreas de exploração, sobreposto na miséria que dorme ao lado. Afinal, o que deixaremos para nossos filhos e netos? Será mesmo que a maioria das pessoas têm consciência do impacto social e ambiental que isso vai gerar? A custo de quem? A custo da sofreguidão e vida dos menores, que não têm voz e nem pátria.
Nem os próprios técnicos responsáveis pelo projeto, que dizem ser o caminho do desenvolvimento para a região, têm a real noção da transformação que um empreendimento desse porte pode gerar aqui.
Desenvolvimento? Que desenvolvimento é esse? Que acomete o aumento do número de famílias em vulnerabilidade social, sujeitas a prostituição, trabalho infantil, tráfico de drogas, aumento do risco de criminalidade, violência, escassez de saúde, sem leitos, sem hospitais...?
Inchaço urbano seguido de desmatamento, de áreas que preservam o
patrimônio natural de nossa biodiversidade, da fauna e flora...? Conflito de
terras, trânsito, tráfego de caminhões de carga pesada, espalhamento do pó de
ferro tão prejudicial à saúde, lavagem dos resíduos químicos em nossas águas,
comprometendo a qualidade dos peixes, da vida marinha, avanço em 80m do mar de
um lado e recuo de 80m do outro, deslocamento de areia para amenizar esses
danos e o extermínio dos fitoplanctos, algas responsáveis pela produção de
Oxigênio, tão fundamentais para a minha, a sua e a respiração de todos.
O
planeta Terra é pequeno! Será que vão querer vir tomar banho em nossos
litorais enquanto um grande navio descarrega as águas sujas que vieram da Índia,
por exemplo? Para compensar o peso na embarcação? As pessoas estão considerando
mesmo os riscos epidemiológicos? Quem vai pagar o hospital do indígena que é
contaminado com materiais pesados, porque comeu um peixe poluído? Ou, quem vai
salvar, por exemplo, a vida de seu filho, doente, de câncer? Quem vai arcar com
o ônus disso tudo? É o Governo? É a União? É a Bamin? É o Banco Mundial? São os
chineses?
Uma banana! É sua vida e de sua família que vai pagar o preço
enquanto eles enchem suas contas de dinheiro em meio a crise econômica mundial.
Ufa, que bela folga no pescoço, não é?! Ninguém quer ficar com a corda no pescoço, mas o
povo daqui tem que agüentar tudo! Querem que isso aqui volte a ser colônia de
exploração. Mas isso aconteceu quando um dia essas terras, que eram colônia,
foram doadas do rei português D. João III à Jorge Figuereido de Correia, em 26 de junho de
1534. E que só pôde ser ocupada pelo Capitão Mor Francisco Romero, em 1535, após
acordo com os Tupinambás, fundando em 1536 a vila de São Jorge dos Ilhéos em
meio a um tempo próspero. Mas hoje os tempos são outros! Presume-se uma
democracia, o povo tem direito de participação e voz diante dos espaços
públicos, tem o dever de fiscalizar as ações do governo e discutir em sua
comunidade os rumos que estão sendo deliberados. Existe uma coisa chamada
Participação nos Espaços Públicos e isso é um direito e dever de todos. Quem se
omitir está sendo conivente com tudo o que for depois decidido.
Não entendo o
Porto Sul como desenvolvimento, ao contrário, é um grande retrocesso, deveria ser
vetado, porque é como um crime na vida de milhares de pessoas. Se esse é o
caminho do desenvolvimento, então é melhor que continuemos esquecidos no
cenário nacional e internacional. Porque se for pra ser lembrado em troca da
vida de várias gerações, de pessoas que pouco têm, e que são agredidas nos seus
direitos, então é melhor que caiamos de uma só vez no esquecimento. Porque se
sem Porto Sul já é uma miséria, mas que ainda subsiste a natureza e a vida
natural do homem em contato com a terra e o mar, imagine com um projeto criminoso como
esse! Nem mais direito de respirar ar limpo teremos! Vocês já pararam pra
pensar nisso? Direito de respiração!!! É demais, não é? Pensem bem,
desenvolvimento a todo custo, nem sempre vale a pena. Existe uma luz no fim do
túnel, muito mais consistente e promissora: Chama-se Planejamento e Execução de
Desenvolvimento Sustentável voltado para o Turismo.
O que me vem a mente é que não bastasse a Operação criminosa do Cruzeiro do Sul, vide documentário "O Nó: Ato Humano deliberado", de Dilson Araújo, para dizimar de uma vez por todas essa região inteira, vêm agora com o golpe de misericórdia, que este sim será fatal se a sociedade não tomar as rédeas e abrir a consciência para a realidade desse projeto. Uma realidade cruel, massacrante, desumana e egoísta.O povo do Sul da Bahia precisa se manifestar e impedir que isso aconteça de qualquer modo. Precisa escolher melhor os seus representantes, ou então uma terra cheia de opróbrios é o que deixará de herança aos seus filhos.
Avante pela consciência! Acordem do sono profundo, ou então quando quiserem abrir os olhos, o pesadelo estará em seu ápice agonizante. Desperta desse sono, e olhem para os lados, existem famílias nas ruas passando fome, alguém precisa de sua ajuda. E se alguém precisa de sua ajuda, é porque você precisa se ajudar. Se ajude!
Existe uma coisa chamada Turismo Sustentável e Planejamento. Certamente uma política voltada para isso, com fiscalização e participação da sociedade na construção de um Planejamento Sustentável para o Turismo, vai render muito mais economicamente, onde todos os setores poderão ganhar se se aprimorarem em suas especialidades, fomentando a excelência na prestação de serviços. Da mulher rendeira ao alto empresário, todos poderão ser contemplados, porque todos voltados para o trabalho comum, todos ganham. Economicamente, essa macroestrutura será muito mais promissora do que um negócio que tem prazo de validade com consequências ambientais e sociais altamente catastróficas.
O que o povo do Sul da Bahia precisa, é acordar e querer pegar na enxada, trabalhar de verdade, e não ficar esperando cair no colo a salvação para seus problemas de uma hora pra outra, acreditar que um diaxo de Porco Sul vai levar alguém a algum lugar. Sabe o que o Porco Sul vai levar? Câncer, vida aquática contaminada com materiais químicos pesados, modificação da geografia natural, caos urbano e social, e o enriquecimento de um grupo fechado de pessoas. Acorda povo!
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