Por Anna Karenina 4085/BA
Maori Jornalismo
Opinativo
Hoje, enquanto
almoçava, tive a ocasião de assistir os horários políticos dos dois candidatos
à Prefeito de Salvador, Pellegrino do PT e ACM Neto do DEM, em disputa do
segundo turno. Confesso que fiquei boquiaberta com a capacidade de produção,
nível técnico, discurso e linguagens empreendidas em ambas produções
audiovisuais pelos profissionais das agências de Comunicação contratadas para
tal. Quase me senti, ao assistir os programas, uma verdadeira cidadã
soteropolitana, que via diante daquelas imagens a elucidação da maioria das
mazelas sociais na capital baiana. Quase acreditei em tudo o que foi dito. Foi
um show de emotividade, fios de cabelos arrepiados, um sentimento de cidadania
irrompendo a alma social... Nas telas, o endeusamento de reles mortais aclamados
pelo povo, beijos, abraços, um carinho desmedido que, salvo engano, mais
intenso aos carinhos cedidos a um primo ou sobrinho pequeno, quem sabe. De
repente, o povo e sua situação tornaram-se a prioridade, nunca antes vista, e
que agora, estão ali com candidatos muito comovidos com a situação da cidade, da pobreza e do caos, solícitos e com valoroso altruísmo, por pura bondade, a sanar
as condições que levam às privações e sofrimento dos filhos de São
Salvador.
É incrível a
capacidade que os Meios de Comunicação têm de tocar na alma do espectador.
Vence quem for mais criativo, mais penetrante no poder audiovisual no que
tange, move e toca os sentimentos e emoções humanas. Esse é o segredo de uma
comunicação poderosa.
E olhe que eu
estudei e conheço parte do que permeiam os processos de produção dos
produtos comunicacionais e os efeitos previsíveis que eles podem causar e gerar
num meio social. E, ainda sabendo, fui tocada e quase me convenci de que toda
aquela narrativa é vida real, quase esquecendo que se trata apenas de uma
construção linguística narrativa, de um discurso meticulosamente pensado no Plano de
Comunicação proposto para uma estruturação audiovisual, voltada para
atingir em primeiro nível fins imateriais. Posso explicar porque primeiro imateriais. Os fins imateriais também estão situados no campo dos sistemas de
crenças, signos e valores que as ciências exatas não podem prever. A
Comunicação Social faz isso muito bem. Isto é, estão imersas no universo da Cultura, onde um filete pode ser o escopo que se abre para milhares de
centelhas que podem compor um universo. Até que o eleitor se convença por toda
aquela parafernália de bombardeamento de informações, e venha apertar na urna
eletrônica eleitoral o número do seu candidato, e seu candidato seja eleito, os
fins imateriais foram bem trabalhados.
Para os fins
materiais, posso discorrer dizendo que isso as ciências exatas podem
prever: depois da massificação de um sistema de crenças no aparelho cognitivo
do povo, o sistema econômico e financeiro que uma Prefeitura pode ocasionar
para a legenda de um partido, do candidato e, sobretudo de como as verbas
recolhidas pelos impostos do município poderão, de fato, serem revestidos em
retorno material para contemplar a sociedade como um todo, podem ser vistos
como fins efetivamente materiais, porque impactam diretamente na vida das
pessoas, na constituição concreta das coisas de um meio.
E fui tocada de
tal modo que me encontro aqui agora escrevendo sobre isso, sendo instada a
parabenizar a equipe técnica de Comunicação tanto de Pelegrino como de ACM
Neto, que conseguiram os dois, tocar na alma.
Faço essa
reflexão, sobretudo, acerca do poder e capacidade que os Meios de Comunicação,
no caso, o televisivo, para ilustrar como as estruturas políticas conseguem
entrar na cabeça do povo com suas ideias. E digo povo, porque é para o povo que
os programas políticos estão direcionados. É do povo que eles conquistam a
maioria dos votos e podem ser eleitos. Porque pertence ao povo o verdadeiro
poder de eleger e retirar quem o povo quer. Só que nisso tudo entra um aspecto
imprescindível: a formação crítica que um povo vai ter para escolher quem ele
quer a serviço da sociedade que pertence. E não o comportamento que o povo tem
assumido: acreditar que um representante político é um patrono que vai colocar
peixe, frango, cesta básica e farinha em sua mesa, gasolina em seu veículo, e
dinheiro na mão para um comprar e você vender o seu voto. A amplitude é muito
maior.
É preciso que o
POVO, com letras garrafais, seja o verdadeiro fiscalizador das práticas
políticas, um inibidor da corrupção, um povo que censure quaisquer intenções
que o levam a se corromper. É preciso que o povo seja exemplo para os
candidatos, de postura, retidão, trabalho, conhecimento e principalmente,
vergonha na cara. É preciso que o povo saiba que um governo é o reflexo de quem
o elege. E se o povo vende seu voto por cinquenta reais, ele pode entender a
consequência do que levou a morte de seu filho assassinado pelo narcotráfico,
por exemplo, bala perdida, falta de assistência nos hospitais, entre outras
coisas. Os esquemas de corrupção que o povo contribui e contribuiu para serem
formados nas células públicas - porque ele vendeu seu voto por cinquenta reais
ou de outras formas - é fruto da negligência e leviandade do Poder Público
Legislativo, de quem o compõe, os eleitos, do Poder Público Federal que deveria
fiscalizar, coibir irregularidades e cobrar mais eficazmente para prevenir os
desvios, e principalmente, o cidadão, que deve participar dos espaços e ser
esse agente social ativo nos espaços públicos. No entanto, ao invés de proteger
seu filho para que o mesmo não permanceça em risco, vulnerabilidade social e
marginalizado, o eleitor que vende seu voto é verdadeiramente quem financia as
próprias mazelas sociais a que vive, imaginando que carnaval, copa e vale
refeição família puramente dignificam o homem. Porque as mazelas sociais são de responsabilidade
de todos os cidadãos e principalmente do Estado, que deve cumprir e ser fiel à
Constituição, grifo cidadania. Mas até que ponto isso tem sido respeitado?
Infelizmente a
Eleição se transformou numa gincana, principalmente com a alta tecnologia das
impressões de tinta a laser, nas gráficas, mídias eletrônicas e papelotes, como
se candidatos fossem mercadorias. Quem dá mais? O que vou ganhar com isso?
A maioria dessas
relações tem acontecido com base no interesse, custo benefício, troca,
apadrinhamentos, bel prazer e conveniências. Agora eu pergunto: onde reside o
verdadeiro sentimento do ser Político? Promover o bem social, da coletividade,
trabalhar a serviço de todos, respeitar o Direito, ou promover o bem estar
social de quem é conveniente? Ou...? Ou...? Ou...?
Porque existem
muitas possibilidades. O fato é que a Humanidade vive uma crise de valores,
assim prefiro pensar do que convencer-me de que o Homem preferiu destituir-se
do Ser que é para se tornar a própria coisificação. Por mais que o sistema seja
uma coisa que desenvolvemos e nos apropriamos para nosso benefício, e que as pessoas tendam
cada vez mais a se relacionar na linguagem das coisas, ainda é eminente a
cultura e os princípios dos valores humanos, de onde brotam suas raízes no
processo de identidade e pertencimento cultural, que vêm de berços tradicionais
e ancestrais. E é isso que eu acredito que ainda deva ser superior às
coisificações do mundo, e que prevaleça no íntimo das pessoas, porque todas têm
uma origem, embora novas formas trabalhem há algum tempo para a destituição do
que é o Ser Humano, para tornarem-se mutantes ou humanoides, com a perversão de
valores que muito se vê.
Por opção própria,
sou apartidária, não defendo uma coligação, pessoa ou partido, porque acredito
que a base social é composta por uma formação heterogênea e que a
classificação e o enquadramento podem ser perigosos para uma visão ampliada, já
que pode existir certa restrição de ótica em casos de pertencimento de grupos.
Acredito que o
importante em todo esse processo é a consciência das intenções intimistas no
coração de cada um, de cada ser político e cidadão, onde quer que atue,
interaja e o que faça. O que vale nisso tudo é o conhecimento, a consciência do
que se faz e a projeção de onde se origina o sentimento. Sabendo que a
consequência só virá depois. E do depois, é só depois, mas é o resultado que
vem da intenção íntima. Se a intenção íntima estiver voltada para a aspiração
verdadeira coletiva, como processo proativo, contributivo, benfeitor e
generoso, subtraindo-se da avareza, vaidade, egoísmo e individualidade, então
tudo o que for plantado se multiplicará. E isso é a irrigação de uma sociedade
inteira.