terça-feira, 24 de abril de 2012

UM GANCHO SOBRE A EDUCAÇÃO MUNICIPAL E O JEITINHO BRASILEIRO

Artigo opinativo

Por Anna Karenina de Oliveira
Jornalista Registro n. 4085/BA

Vi hoje por entre o vidro do automóvel Professores da rede municipal de Ensino de Ilhéus passando pela Avenida 2 de julho, entre apitos, faixas e protestos. Eles continuam em greve por tempo indeterminado desde o dia 12 de abril, e têm feito manifestação com passeata na tarde desta terça-feira, 25, no centro da cidade. Entre as reivindicações, melhores condições de trabalho, principalmente no que se diz ao pagamento dos salários em atraso e reajuste na remuneração da classe prevista em lei. Além disso, infraestrutura básica de salas que viabilizem condições de ensino aprendizagem, assim como carteiras, quadros, salas de informática que funcionem verdadeiramente para que aconteça a inclusão digital, bem como os recursos primordiais da educação, como bibliotecas com acervos de livros decentes, que falem da cultura brasileira na sua essência, e não livros para "bois de cego mando", como já diria o poeta grapiúna, Cyro de Matos quando se reportando à ditadura militar. Sinto ares tão familiares no tempo de agora, só que tão tecnológicos sofisticados e digitas, raio laser, larga escala, satélite chipado: monitoramento.
Infelizmente a realidade da educação na Bahia não é das melhores, e em se tratando das escolas da rede municipal, no caso de Ilhéus, a maioria não contempla condições e estrutura para que a educação, aconteça verdadeiramente. E não acontece verdadeiramente, a começar pelas políticas públicas implementadas desde 2010, via o Projeto Nacional de Direitos Humanos (PNDH) III, que o então presidente Lula diz que assinou sem ler.
De acordo com informações disponíveis em rede, no site Jornal Bahia Online, " 'é preciso definir quem representa o governo. Todo dia aparece um que muda o que já foi acordado', afirmou a presidente do sindicato dos professores, Enilda Mendonça. O governo teria acatado a decisão de pagar o Piso Nacional dos Professores, mas o impasse estaria no Plano de Carreira dos Trabalhadores em Educação, que, segundo a categoria, não vem sendo aceito pelo governo".
Esse é o verdadeiro retrato de como a educação vem sendo tratada, ou melhor, negociada a preço de banana, neste país. A situação dos municípios é reflexo do efeito dominó que vem do Planalto Central, e que todos os cidadãos brasileiros são responsáveis.
O ofício que se insere dentro das Ciências Humanas, de ser um educador, tão nobre dentre todas as profissões, a base do legado de uma civilização, e engrandecido em determinados contextos de certos países, como na China por exemplo, lamentavelmente no Brasil vive uma realidade vergonhosa. Professores aqui são tratados na rede pública, no contexto governamental, quase como animais de carga, porque ainda carregam nas costas o peso da responsabilidade de um Estado negligente, que não têm cumprido com o seu papel de garantir a educação de qualidade nesse país. É só refletir como andam as escolas públicas, do Norte, por exemplo.
Menino perdeu de ano, empurra de série mesmo assim. Não sabe ler direito, mas mesmo assim é alfabetizado. Criminalidade coloca professores como reféns daquilo que eles próprios votaram na urna eleitoral. E eleições estão chegando... Preparem o dedo pra apertar o verde e confirmar, a mamata lá vem vindo enchendo o bucho e gargalhando...
"Aê pro, é cano na cabeça se não me der nota boa, sou bandido e filho de bandido que está dentro e fora da prisão. Faz o jogo direitinho ou então o negocio vai ficar feio pro seu lado, morou?"
E porque isso acontece? Porque deram assas demais às cobras e elas estão voando por aí que nem garças. E como diria Lulu Santos, "assim caminha a humanidade, com passos de formiga e sem vontade". Assim caminha o Brasil, a Bahia, Ilhéus. São Jorge, nosso padroeiro! que nos socorra, desce desse cavalo porque o exército não tá pra brinquedo. É pé no chão o guerreiro, com sua lança afiada, sai e combate o bom combate, nossos filhos estão precisando. E que nada fique impune diante de sua intercessão a Deus. E São Sebastião que retire as amarras! Já chega de tanta flecha atravessada em nossas crianças, interceda por um futuro sem opróbrios!
Enquanto a sociedade não se organizar e fizer valer o direito da integridade pela educação, pela formação de seres humanos, pautada em valores e direitos humanos e não alienatórios, o que me parece, é que o bonde vai empenar ainda mais.
O que fica no ar é a indagação de, até quando?
Até quando as pessoas não quiserem mais eleger representantes que só pensam em representar o próprio bolso. Enquanto não questionarem os conteúdos e políticas que os meios de comunicação têm feito uso, enquanto não construírem um pensamento mais crítico da realidade, vomitando o que já chega pronto e embalado para massificação ideológica, ladrões de mentes.
Valei-me, misericórdia!
Alguém salve a educação nesse país! Cristovam Buarque, eu ainda tenho esperança.